Embora escrita em primeira pessoa, esta carta possui o sentimento de milhões de professores espalhados pelo Brasil. Professores como eu, minha irmã, meus amigos e amigas que, pela primeira vez, sentem-se fatigados não pelo excesso da presença (nas classes), mas pela ausência do “real ”e entrega ao “virtual”; pelas cobranças advindas de várias partes, mesmo que desorientadas, sem clareza, as quais exigem que ocupemos sobremaneira os estudantes.
Desde que fomos acometidos pela quarentena, trabalhamos ininterruptamente para propiciar uma educação de qualidade para seus filhos, pais. Driblando a escassez de recursos tecnológicos – muitas vezes de habilidades técnicas -, somos impelidos a produzir materiais, utilizando plataformas novas, aprendendo incansavelmente novas habilidades e usando recursos para os quais, nunca antes, tivemos preparo. Muitos argumentam que tal é nossa função, mas todo aprendizado exige preparo – e disso entendemos. Somos profissionais da educação – embora tantos acreditem que possam fazer o mesmo. E isso é falso – veja a queda drástica no número de docentes ano após ano. A desvalorização é latente, porém o bradar pela nossa ajuda é estrondosa. Sim, estamos consertando um barco em alto mar.
Sem cessar, convivemos com o medo da doença, que acomete nossos familiares, com a velocidade das notícias e o alerta constante das autoridades de saúde. Dividimos tudo isso com o desafio da manutenção dos nossos empregos, haja vista as propostas dos pais de redução da mensalidade e da evasão escolar. Ansiedade, desespero, cansaço… se o equilíbrio é a chave para transcendermos a crise, o campo do externo não comporta, em diversos momentos, uma reciprocidade. Em verdade, estamos evitando o contato entre os pares – há um clima, entre nós próprios, de afastamento quando não solicitados pelas instituições. O “papo de professor”, comum em nossas rodas de convivência, cedeu ao silêncio do estresse. Estamos efetuando compra de materiais de informática para levar nossos rostos e vozes até suas casas, expondo nossa privacidade do lar para oferecer-lhes educação. É uma doação pouco valorizada por muitos, que somente percebem nossa importância quando hão de conviver com os próprios filhos.
Somem toda essa “doação” aos educandos à nossa própria doação aos nossos filhos, aos nossos pais idosos e aos nossos afazeres. Somos milhões de professores fazendo o possível, conectados vinte e quatro horas e dividindo-nos em diversos “locais” de trabalho (ademais, as cobranças multiplicam-se). Somos milhões que encaram o desrespeito dos governantes, o corte de verbas, a acusação da inutilidade das ciências – sejam naturais ou humanas -, e que, ainda, acordam às seis da manhã para sorrir diante das câmeras. Escondemos nossa voz de cansaço nos áudios, numa distopia do “tudo bem”, para ocupar nosso dia de atendimentos às famílias – muitas vezes, desrespeitando e tratando-nos como “além humanos” (não pelo valor de “carinho”).
Sim, somos milhões. Vozes que gritam aflitas em ruas silenciosas, visando um só sentimento: respeito. Respeito às limitações de todos os tipos, respeito aos medos e aos cansaços. Somos milhões de humanos que, apesar de toda falácia da educação como vocação, precisam de valorização, de tempo e de compreensão.
Respeitem e valorizem, pais, os professores, coordenadores, diretores e demais agentes educativos. Somos o futuro desse país – contudo precisamos de força coletiva para tal.
Um professor
*Imagem ilustrativa
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O Sinpro Minas mantém um plantão de diretores/funcionários para prestar esclarecimentos ao professores sobre os seus direitos, orientá-los e receber denúncias de más condições de trabalho e de descumprimento da legislação trabalhista ou de Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
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