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Machismo brasileiro: "mulheres são menos aptas para ocupar cargos de chefia"

6 de dezembro de 2016

Enquanto as mulheres têm de enfrentar muitos desafios para entrar no mercado de trabalho e lidar com salários menores que o dos homens, elas ainda são vistas por muitos brasileiros como “menos aptas” a conquistar um cargo de liderança por engravidarem.

Três em cada 10 homens concordam que é justo ter menos mulheres à frente de empresas porque elas podem engravidar e sair de licença maternidade. Além disso, 2 em cada 10 homens do Brasil afirmam que é “constrangedor” uma mulher ganhar mais que um homem.

Foi o revelou a pesquisa Brasileiras – Como elas estão mudando o rumo do País, divulgada nesta sexta-feira (2) pelo instituto de pesquisa Locomotiva, liderado pelo pesquisador Renato Meirelles. O estudo, realizado em novembro com 1.024 mulheres e 858 homens de todo o Brasil, revela um panorama alarmante sobre o machismo no País e, consequentemente, no mercado de trabalho — e como isto afeta a renda, o empoderamento e a independência das brasileiras.

Apesar das mulheres representarem um pouco mais da metade da população brasileira, elas ainda sofrem muito preconceito e são alvo de violência e assédio no trabalho. O estudo mostra que, enquanto 60% das brasileiras concordam que as mulheres deveriam ocupar ao menos metade dos cargos de chefia nas empresas, 30% dos homens concordam com a frase:

“É justo mulheres assumirem menos cargos de chefia que homens, já que podem engravidar e sair de licença-maternidade.”

Além disso, 20% dos homens, ou cerca de 15,4 milhões de brasileiros, acham constrangedor uma mulher ganhar mais que o homem e concordam com a frase: “o marido sempre deve ganhar mais que a esposa.”

Entre as mulheres, 72% acreditam que o homem “se sente inferior” quando a mulher é mais bem sucedida profissionalmente que ele.

Não só esta percepção impede mulheres de conquistar cargos de gestão. A jornada dobrada e mínima ajuda dos homens nos afazeres domésticos fazem com que mulheres dediquem menos horas e esforço no trabalho corporativo e até prefiram deixar o emprego.

Enquanto 21% dos homens acham difícil conciliar a vida profissional e pessoal, o percentual entre as mulheres sobe para 31%.

O estudo Síntese de Indicadores Sociais – Uma análise das condições de vida da população brasileira, divulgado hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra exatamente isto: as mulheres brasileiros trabalham, em média, cinco horas a mais que os homens (somando o trabalho em casa), mas recebem 24% menos que eles.

“Fica claro que o Brasil avançou. Somos menos desiguais. Por outro lado, a gente olha a realidade e ela está muito aquém do ideal”, avalia Renato Meirelles, do Locomotiva.

“Vimos que a desigualdade de gêneros promove a exclusão da mulher no mercado de trabalho, traz prejuízos efetivos para a economia brasileira e, na prática, aumenta a rotatividade nas empresas.”

Segundo o estudo do Locomotiva, se o salário das mulheres se equiparasse ao salário dos homens, a economia brasileira teria uma injeção de nada menos que R$ 461 bilhões.

O problema, avaliou Meirelles, está no machismo naturalizado. “O primeiro passo para o entendimento do homem é como privilegiado, ou seja, alguém que se beneficia da desigualdade.”

A junção de tudo isso resulta na exclusão da mulher do mercado de trabalho formal. O Locomotiva revelou que 51% das mulheres entrevistadas querem mudar de emprego no ano que vem. Além disso, 24% das mulheres que trabalham já trocaram de emprego alguma vez na vida para ter mais tempo com a família, contra 17% dos homens.

Ainda, 17% das mulheres que não estão trabalhando apontam como principal motivo não ter com quem deixar os filhos. Entre os homens esse percentual é 0%.

“Quando nós perguntamos o que é homem de sucesso, ninguém tem dúvidas: é um homem que tem sucesso profissionalmente. Quando pergunta o que é uma mulher de sucesso, a resposta se dispersa — é uma boa mãe, é uma mulher que está bonita, que se desenvolveu profissionalmente. Historicamente, se pensa que a mulher tem um papel que não é o papel do homem. Esse mesmo pensamento também explica o grande número de mulheres terem mudado de emprego ou ter deixado de trabalhar para cuidar dos filhos, coisa que não acontece com os homens.”

Violência no trabalho

Outro dado que chama atenção da pesquisa é que 73% dos brasileiros afirmam conhecer alguma mulher que já sofreu preconceito ou violência no trabalho e 43% das trabalhadoras afirmam ter sofrido pessoalmente preconceito ou algum tipo de violência no ambiente corporativo.

Um detalhe neste ponto é a diferença das respostas entre eles e elas: enquanto 40% dos homens já conheceram uma mulher que sofreu preconceito no trabalho, 52% das mulheres já souberam de casos similares.

Para Meirelles, a diferença é explicada justamente porque os homens, em muitos casos, não veem o machismo (ou negam que o praticam). “Existe um ditado popular: quem bate esquece, quem apanha lembra. Não é o homem que é vítima disso. O machismo existe historicamente na sociedade brasileira e isso faz com que muitos casos não sejam percebidos pelos homens. É o machismo naturalizado.”

Segundo o pesquisador, a internet tem ajudado a disseminar o empoderamento feminino, inibir o preconceito de gênero e denunciar casos de violência contra a mulher.

“Sob liderança das mulheres, o combate do machismo é uma bandeira de todos. Isso tem que estar presente no cotidiano, na denúncia, quando for grave, mas também na demonstração quase que pedagógica da naturalização do machismo quando o homem não percebe.”

Fonte: Agência Patrícia Galvão

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