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Protestos anti-Dilma: especialistas alertam para oposicionismo alienado

18 de março de 2015

Cientistas políticos defendem legitimidade de protesto do dia 15, mas alertam para limitação do discurso anti-Dilma, que não resolve problema do Brasil
O ato contra a presidente Dilma Rousseff, ocorrido nesse domingo (15), reuniu manifestantes de todo o país que protestaram contra a corrupção e pediram a saída da presidente do poder. Com o apoio da mídia, manifestantes vestiram camisas verdes e amarelas e levaram cartazes que pediam “Fora Dilma”, “Impeachment” e até “intervenção militar”. Para especialistas ouvidos pelo portal Minas Livre, o protesto é democrático e legítimo. Mas eles alertam que o desconhecimento do sistema político e uma interpretação equivocada sobre a governança pública foram as razões que levaram muitos às ruas.
O doutor em ciência política e professor da PUC Minas, Malco Camargos, explica que o impeachment é um ato extremo de retirada de poder de um presidente, governador ou prefeito por parte da casa legislativa. Segundo ele, esse ato acontece mediante a comprovação de delitos cometidos pelo governante durante seu mandato.

Pedido 
“O pedido de impeachment da presidente Dilma é um assunto complicado porque ela assumiu o mandato no dia 1º de janeiro e, ao que indica a Polícia Federal, o Ministério Público e as CPIs, não há envolvimento da presidente com os escândalos recentemente divulgados”, destaca.
Para o cientista político, o pedido de impeachment nas ruas é resultado de uma má interpretação da população a respeito da governança pública. “As pessoas foram conduzidas a fazer a interpretação de que os problemas do país estão concentrados em um único partido. Esse equívoco leva a certos comportamentos que se manifestem nas ruas, como o pedido de impeachment”, analisa.
Ele defende que a troca de dirigentes políticos não é a solução e que o país precisa de uma reforma na política, no judiciário e no tributário. “O impeachment ou a renúncia da presidente não são capazes de atender expectativa das pessoas que foram às ruas, a não ser que elas queiram a simples troca de poder”, conclui.
Desconhecimento
O professor Ciência Política e Relações Internacionais da Una e do Ibmec, Oswaldo Dehon, faz coro ao colega e afirma que o pedido de impeachment não chega a ser antidemocrático, mas desrespeita questões políticas e legais. Para ele, esse tipo de protesto demonstra uma “baixa compreensão das regras do sistema político do país”. Ele também não acredita que a saída de Dilma Rousseff resolveria a crise e afirma que essa é uma forma “simplista de observar problemas políticos no país”
Ele observa que também tem ocorrido uma confusão entre problemas econômicos e políticos. De acordo com o professor, a insatisfação com a economia é generalizada e inclui grupos que apoiam o governo. Mas, ele destaca que a oposição acredita que a crise econômica se resolve com a política, por meio da troca de poder, o que ele considera “absurdo”. “Muitas pessoas foram às ruas sem saber como funciona o processo político e a oposição se aproveita disso para se beneficiar e alimentar o clima de oposicionismo no país”, destaca.
Perfil dos manifestantes
O caráter elitista do protesto do dia 15 de março foi um ponto de discussão que dividiu opiniões em todo o país. Enquanto uns dizem que o protesto foi a reação de uma minoria revoltada, outros defendem que a movimentação de milhares de pessoas não pode ser negligenciada.
Segundo pesquisa Datafolha realizada durante o ato em São Paulo e divulgada nesta terça-feira (17), a maioria (27%) dos manifestantes ouvidos no ato do dia 15 recebe entre 5 e 10 salários mínimos. Além disso, 76% deles têm nível superior e 74% foram a uma manifestação pela primeira vez. Outro dado importante é que 82% dos entrevistados votaram em Aécio Neves nas eleições para presidente.
Para Malco Camargos, o ato do dia 15 de março tem que ser levado em consideração e analisado com cuidado pela presidente. Mas ele destaca que ele só tem sentido real se a luta for por melhorias no sistema político e não apenas pela saída de Dilma. “Um milhão de pessoas é muita gente, independente de quem seja. Mas ao ver quem estava nas ruas fica claro que era um grupo distinto. Não é problema um grupo distinto estar insatisfeito, mas qual é pauta? Melhores políticas públicas ou só a troca de governante?”, frisa.
O professor Oswaldo Dehon acredita que o movimento do dia 15 de março tem semelhanças com o ocorrido em junho de 2013, tendo em vista que ele não teve lideranças e bandeiras bem definidas. Para o especialista, esse é um ponto negativo, pois não cria uma cultura de discussão política consolidada e abre brecha para o oposicionismo sem propósito. “As pessoas foram para as ruas no domingo, mas na segunda-feira com quem a Dilma vai dialogar? Quem são os líderes ou os grupos políticos?”, alerta.
Golpe militar
Entre as diversas bandeiras que apareceram no protesto de domingo não deixaram de aparecer as que pediam a volta do regime militar. O apelo é de uma minoria, segundo pesquisa Datafolha, que mostrou que a maioria dos manifestantes entrevistados (47%) protestou contra a corrupção. Mas o pedido de golpe ainda surge com uma frequência lamentável: segundo a pesquisa, 10% dos entrevistados acredita que em certas circunstâncias é melhor uma ditadura. E 3% sequer vê diferença entre democracia e ditadura.
Para Oswaldo Dehon, o pedido de golpe reflete não só a quebra de constitucionalidade, como um pensamento completamente alheio à maneira pela qual se discute política no Brasil. “São pessoas insatisfeitas com a democracia e que, frente a interesses próprios, fogem às regras institucionais básicas”, diz.
O professor Malco Camargos afirma que nunca imaginou que esse sentimento pró-golpista pudesse voltar com tanta força, o que ele lamenta com pesar. “Parte das pessoas que foram às ruas não aprenderam com o que os pais viverem, não compreenderam que não há nenhuma virtude nesse regime que não diminui a corrupção, não melhora as práticas de governança e submete às pessoas a uma condição de vida onde não podem se manifestar contra o poder em questão”, analisa

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por Thaíne Belissa – Minas Livre

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