A crise com certeza já se espalhou pelo mundo todo e também por todos os setores da economia, um verdadeiro “tsunami”, salve-se quem puder. O colapso financeiro começou no centro do capitalismo mundial abalando a fé nos mercados e desestruturando o sistema de preços globais pela dificuldade de se encontrar parâmetros ou referências confiáveis para os agentes econômicos agiram, tornando o ambiente dos negócios completamente caótico. A medida, duração e intensidade podem surpreender a todos, pois trata-se, talvez, da maior crise da história do capitalismo.
Há cerca de um ano o mundo passava por uma onda especulativa das commodities agrícolas, gerando uma pressão para cima dos preços dos alimentos. Culpava-se, entre outras coisas, a expansão da cana para produção de biocombustível a partir de etanol como causa da escassez de alimentos, pois concorria com a produção desses gêneros num momento de crescente demanda, já que os pobres do mundo estavam tendo um pouco mais de acesso ao consumo.
Passado esse tempo, durante o qual se produziu muita discussão sobre o futuro da produção mundial de alimentos e do abastecimento da população do planeta, gerando expectativas pessimistas e alarmistas, o fato é que o setor agrícola respondeu ao chamado, estimulado pela situação mais favorável dos preços de seus produtos. Não se configurou uma situação catastrófica como muitos analistas previam. O Brasil, por exemplo, obteve uma safra recorde no período e os agropecuaristas ganharam muito dinheiro.
É inerente a este setor flutuações periódicas de preços e elevado grau de riscos, ora devido a um excesso de demanda ou de oferta, ora devido às condições climáticas, meteorológicas e incidências de doenças e pragas a que as culturas estão submetidas. Um ou mais anos ruins convivem muito bem com outros de elevados rendimentos. Com a crise atual atingindo a economia real, sobram especulações sobre a situação da agricultura. Agora a tendência, ao contrário, é de queda dos preços, o que afeta em cheio a lucratividade. Outro problema é a escassez de crédito devido à falta de confiança dos agentes financeiros quanto ao futuro. O governo já providenciou auxílio ao setor, como parte do pacote de políticas anticíclicas.
Uma vantagem nós temos, nossa agricultura é uma das mais competitivas do mundo, temos terra em abundância e tecnologia avançada. Quanto à mão-de-obra, ela é abundante e, infelizmente, extremamente barata. Para o capital todas as condições favoráveis estão dadas. Não me espanta o chororô dos agropecuaristas, pois todos querem aproveitar a crise para obter vantagens governamentais, haja vista os bilionários banqueiros que já se anteciparam a todos na obtenção desses recursos públicos, numa espécie de keynesianismo ao contrário, para os ricos, como foi todo o período de FHC e que ainda permanece com intensidade considerável.
É evidente que haverá um grande choque devido à queda dos preços das commodities agrícolas, mas a demanda por alimentos no mundo não deverá cair acentuadamente. Acho até que ela é crescente, como ocorre hoje na Ásia, África e a América Latina por causa de taxas consideráveis de crescimento econômico e de políticas sociais de distribuição de renda. Esta aí a chave da equação para a agricultura, o governo deve realizar políticas mais contundentes de distribuição de renda e emprego para forçar o consumo dos pobres para cima, estimulando o setor. Entre elas, melhorar e expandir o “bolsa família”, realizar concursos públicos, criar oportunidades de emprego, estimular a produção, favorecer as pequenas e médias empresas, melhorar e expandir a estrutura de crédito para a agricultura familiar e intensificar o processo de reforma agrária.
Esta crise poderá ser um momento de grande oportunidade para o Brasil, mas somente se as políticas de governo avançarem na direção dos mais pobres. Os ricos do país já ganharam muito dinheiro, aliás, como nunca. Agora é hora de fazermos a acerto de contas, pois o sacrifício desta crise não poderá ser socializado. O povo não merece e nem a economia suporta, pois, se for assim, poderemos nos afundar a todos. Murilo Ferreira da Silva é mestre em Administração e Desenvolvimento e diretor do Sindicato dos Professores de Minas Gerais
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