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Como está a educação básica durante a pandemia?

18 de fevereiro de 2021

Por Cristina Alvim, professora de pediatria da UFMG
Como está a educação básica durante a pandemia? 
É preciso contemplar essa pergunta e não se apressar em responder. 
Antes de começar a pensar sobre a questão é preciso reafirmar que educação é um direito e não uma mercadoria ou um produto. Como direito, qualquer proposta que envolva educação deve se basear no princípio da justiça e da equidade. E devemos estar vigilantes para reduzir o risco de agravamento de desigualdades. 
Também é fundamental examiná-la sobre diferentes pontos de vista. A visão dos gestores, tanto das secretarias de educação, como da saúde, como dos diretores e diretoras de escolas. A visão dos professores e professoras que atuam nas salas de aula, sejam presenciais ou virtuais. A visão das famílias que estão supervisionando o processo de ensino e aprendizagem dentro de casa. E, principalmente, a percepção e os sentimentos das crianças e adolescentes. 
Embora a grande maioria das crianças e adolescentes estudem em escolas públicas, o debate sobre a educação básica na pandemia tem priorizado as demandas de pessoas (famílias/gestores) que estão em escolas particulares, como se fosse inevitável ou aceitável o apartheid na educação. E infelizmente essa discussão se reduziu a uma armadilha, a uma falsa dicotomia: voltar ou não voltar as aulas presenciais. 
A falsa dicotomia que se colocou no debate da volta as aulas produz uma seleção enviesada de argumentos a favor ou contra o retorno, com o objetivo reducionista de fortalecer uma posição e não de buscar um caminho, um consenso, um planejamento, um horizonte. A dicotomia é falsa porque a questão que envolve a educação básica na pandemia não é se devemos ou não abrir as escolas, mas sim quando e como. 
Responder a essas duas questões já é suficientemente difícil para perdermos tempo e energia com um debate estéril e cheio de ódio e ranços políticos. É lamentável que ocorram ataques a professores, com um discurso de “direito do consumidor”. Faz falta no debate a ênfase e a defesa incondicional do propósito transformador da educação. 
Então quando abriremos as escolas? 
A resposta não se resume a uma decisão técnica e sanitária, embora obviamente deva considerá-la, sobre a incidência segura de casos de Covid (meta que neste momento parece quase inatingível) ou quando todos os professores estiverem vacinados (meta que também parece ainda distante da realidade). 
Abriremos as escolas quando compreendermos que educação não se resume a conteúdo, é principalmente espaço de construção de cidadania e socialização. 
Abriremos as escolas quando assumirmos que não desejamos voltar ao normal, porque não era bom, e que queremos algo melhor, diferente, nunca feito. 
Abriremos as escolas quando conseguirmos conversar de verdade com as pessoas envolvidas e construir uma proposta transformadora, com elementos consolidados da educação popular e elementos inovadores proporcionados pela inclusão digital. 
Abriremos as escolas quando professores não se sentirem ameaçados em seus direitos. 
Abriremos as escolas quando acreditarmos que crianças e jovens são prioridade e que não podem esperar. 
Abriremos as escolas quando a educação for considerada uma atividade essencial. 
Abriremos as escolas quando reconhecermos que a educação básica é sinônimo de esperança. 
E que uma sociedade não respira sem esperança. 

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