Minha geração aprendeu o que é um golpe de Estado nos livros de história, nas memórias dos combatentes, nas lembranças de quem sobreviveu aos anos de chumbo, nos cursos de formação dos nossos partidos políticos. Somos filhos da ditadura militar. Nascemos no seu contexto. Eu, por exemplo, sou de 1977. Sofremos todos seus efeitos. Porém, não a vivenciamos de fato. Conscientes. Por questão obviamente geracional. Marca mesmo, em nossas memórias infanto-juvenis, a construção da democracia, a Assembleia Nacional Constituinte, a Constituição Cidadã de 1988, as lutas pela participação e avanços nos direitos trabalhistas. A luta por um governo popular e, em 2002, a consagração desse anseio, o qual festejamos e compartilhamos juntos, nas ruas.
É a primeira vez que minha geração assiste ao vivo e consciente a um golpe. E é um “golpe” duro nos nossos sonhos, naquilo que vínhamos vendo ser construída: nossa jovem democracia. E como dói. E a dor que sentimos hoje não pode ser comparada nem em pensamento com a dor dos presos, torturados e mortos da ditadura militar. Porém, ao ver ameaçada a democracia que esses heróis da resistência popular lutaram tanto para construir – muitos morreram por ela – passamos, nós que temos consciência histórica, por um processo de reconstituição desse luto… Dessa dor. É como se os fantasmas do passado voltassem. Ou como se descobríssemos que eles nunca se foram. Apenas deram pequenas tréguas para a consolidação do sistema.
Democracia que se quer é democracia que se esmera pela igualdade de oportunidades. Não uma democracia que perpetue os contrastes sociais. Democracia que ser quer é democracia que coletiviza os meios de produção. Não uma democracia que põe uma classe submetida à outra, pela não detenção desses meios, e que dá como prêmio de consolação o direito ilusório à participação política.
Ainda assim, mesmo vivendo em uma democracia jovem e deficiente, conformada e concedida pela classe dominante, vê-la ruir é, repito, um duro golpe. Foi a democracia que a correlação de forças, desigual, nos permitiu construir. E assistir a um golpe de Estado, que hoje em dia prescinde do aparato militar e se justifica meramente nas instituições “democráticas” constituídas, causa muita dor em quem assistiu a construção disso tudo, com toda carga emocional de ter nascido no auge da ditadura militar. Não é pouca coisa o que estamos vivendo. E espero que nossa geração esteja atenta e forte para os intensos embates e desafios vindouros. Se olharmos para o passado, veremos que temos inspiração suficiente para não esmorecer… Verás que um filho teu não foge à luta!
Por: Clarice Barreto – Diretora do Sinpro Minas
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