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Mais cotados para o MEC seguem ‘política educacional’ olavista

22 de junho de 2020

Ala ideológica deve ser mantida por “pessoas que não têm competência para gerir, mas são mais polidas”, avalia o educador Daniel Cara. “Weintraub só caiu por ser verborrágico”, diz

O agora ex-ministro da Educação Abraham Weintraub foi demitido não por uma avaliação de seu desempenho à frente da pasta, mas pelos problemas que causou ao governo de Jair Bolsonaro com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Essa é a avaliação do professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.

Em entrevista ao jornalista Glauco Faria, na edição desta sexta-feira (19) do Jornal Brasil Atual, o educador faz uma análise do desfecho do que já era tratado como certo, a demissão, e um balanço do segundo ministro da Educação do governo Bolsonaro. E conclui, “Weintraub não apresentou, não aprovou e não implementou uma política educacional. Tudo aquilo que tentou, ele fracassou em termos de trabalho educacional”.

“Mas ele se tornou uma figura relevante para o debate e para a posição bolsonarista, fazendo com que o Ministério da Educação servisse na prática como uma grande caixa de ressonância da propaganda do governo. Foi um ministro que fez de fato o Brasil andar para trás em termos educacionais”, resume à Rádio Brasil Atual.

Os mais cotados ao posto

Antes mesmo do anúncio confirmando a saída do ministro, nos bastidores do MEC ao menos quatro nomes já eram aventados para assumir o cargo. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a previsão é que a pasta continue sendo mantida sob controle da ala ideológica olavista.

O próprio Weintraub era uma indicação do guru da família Bolsonaro, Olavo de Carvalho, que deve ter também o peso do julgo final sobre a terceira escolha para a Educação. Como mais cotado está o atual secretário de Alfabetização da pasta, Carlos Nadalim. Assim como a secretária de Educação Básica, Ilona Becskeházy, e o secretário-executivo Antonio Vogel. A possibilidade é que de ocorra um controle interino, antes da definição do novo ministro.

Na prática, Cara adverte que as mudanças não irão refletir uma descontinuidade com a gestão de Weintraub. “É uma troca de seis por meia dúzia”, ironiza.

“Os três são hoje favoritos para assumir o Ministério da Educação, porque são próximos do Olavo de Carvalho. E o Olavo de Carvalho não abre mão de determinar o próximo ministro ou ministra da Educação”, explica, ressaltando que a “política educacional bolsonarista” é a “guerra cultural olavista”, já posta em prática por Weintraub.

A diferença, contudo, não está na capacidade de gestão, porque, nas palavras do educador, os três mais cotados “são pessoas que não têm competência para gerir a área”. Mas no fato de serem pessoas “mais polidas” do que ex-ministro.

“Se ele (Weintraub) não fosse tão verborrágico, certamente neste momento ele continuaria no Ministério da Educação. Porque o governo Bolsonaro, e isso que é importante deixar claro, ele não quer de fato realizar o direito à educação, trabalhar em prol da educação. Esse é um governo que joga contra os direitos sociais. E no caso da educação isso não é diferente, muito pelo contrário. O objetivo do governo é aniquilar a educação, ciência e tecnologia, e o Abrahan Weintraub vai sair agora, chegará outro ministro, mas o problema concreto é que a educação brasileira só vai respirar quando Jair Messias Bolsonaro deixar a presidência da República”, destaca.

Realinhamento empresarial

Outro nome também cotado é o do presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Benedito Aguiar, que teria aval da bancada evangélica.

Além de agradar aos setores de apoio, Bolsonaro ainda pode conquistar, com a nova indicação ao MEC, o meio financeiro que atua no ramo da educação. De acordo com o membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, essa é uma ala “que não se importa com o obscurantismo olavista”, mas com o entrave à pautas importantes que destinem mais recursos à educação.

Cara faz referência ao viés privatista, no qual está ancorado, por exemplo, o projeto de financeirização das universidades públicas, Future-se. Para o educador, Weintraub, embora alinhado a essa visão mercadológica, em sua busca por estabelecer novas lideranças na “elite econômica educacional” não agradou ao setor empresarial que fez parte, inclusive, de governos progressistas.

O que também explica, em sua avaliação, a falta de apoio a projetos como Future-se, de privatização da educação básica, ou mesmo de estímulo à educação a distância – antes mesmo da pandemia e para depois dela.

“Weintraub cometeu um erro estratégico. Ele rompeu com um pilar de sustentação do governo que é o apoio da elite econômica, as associações e fundações empresariais. Entre elas, a ONG Todos pela Educação, a Fundação Lemann, o Instituto Natura. Ele foi rompendo com pessoas da elite que de certa maneira tentavam construir uma aliança de gestão com o governo. (…) Essas organizações, que apoiam essas teses, elas na verdade terão o caminho mais livre com qualquer que seja o ministro. Desde que ela seja polido e que não ataque de forma tão frontal as posições dessas organizações”, observa.

Momento é perigoso

O momento é, portanto, “o mais perigoso para a educação pública”, segundo Cara. “Com Abraham Weintraub certamente o Future-se não teria futuro no Congresso e isso pode mudar agora. (…) E também todas as estratégias de privatização e as pautas ultraconservadoras, alinhadas com essas entidades de base empresarial, elas podem ter sucesso no Congresso”, adverte o educador, defendendo que a educação brasileira deveria se pautar na consagração e na universalização do direito à educação.

“Esse é o ponto que o mundo empresarial diverge, porque isso significa investir adequadamente em educação. Isso significa valorizar professores. E significa ter um currículo que de fato faça diferença na vida das classes populares e trabalhadoras, que quebre os privilégios da elite brasileira”, finaliza.

Fonte: Rede Brasil Atual

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